A QUEM INTERESSA O RESGATE?
Faz alguns anos que os angoleiros acordaram de um longo sono a respeito da sua própria identidade. Começaram a questionar se o que faziam era mesmo um culto bantu, vindo em parte de África e retrabalhado em contato com a realidade do novo mundo, ou se o que faziam era uma mera cópia do modelo Ketu. Além disso, a academia e os livros publicados todos se referenciavam ao modelo ketu passando ao largo das especificidades bantu. O candomblé de congo-angola sempre foi considerado pelas demais nações como alguma coisa menor, uma umbanda melhorada ou quando muito uma cópia do modelo ketu.
Isso tudo porque? Porque os angoleiros sempre trataram suas divindades como se fossem orixás do ketu, sempre paramentaram seus Minkissi como se paramentam os orixás e além de tudo cantam cantigas em português, em ketu e até em Jeje, deixando de lado as verdadeiras raízes bantu.
Qual a verdadeira natureza do resgate que alguns zeladores têm empreendido? Resgatar, significa salvar algo que se perdeu. E o que se perdeu ao longo do tempo no Candomblé de Congo-angola? Perdeu-se, a meu ver, muito da linguagem ritual, substituída pela língua ioruba (língua ritual do ketu), perdeu-se a lembrança de muitos Minkissi, perderam-se alguns ritos e é necessário recuperar isso tudo, apesar da relutância de muitos, que são contra a qualquer tentativa de resgate.
O argumento mais forte dos que são contra é que nossos fundadores assim deixaram e que mudar agora é um desrespeito a memória deles. E aí eu pergunto? Eles deixaram assim, ou as coisas foram sofrendo a inexorável ação do tempo e acabaram ficando assim?
Outro argumento, esse sim, totalmente falacioso, é que o Candomblé surgiu a partir de uma reunião entre os líderes negros da época e que nesse momento, decidiram-se as regras do candomblé. Esse argumento é risível, uma vez que nenhum religião se forma a partir de reuniões ou convenções. E desafio a quem quer que seja que me prove com fatos, argumentos ou documentação se esse fato aconteceu ou se é fruto da imaginação de alguns sonhadores. Sabemos, e os historiadores têm trabalhado isso, que a formação dos candomblés, ketu, jeje e angola, deu-se num lento processo, no correr do século XIX e começos do século XX. Falar de reuniões e convenções é, no mínimo, faltar com a verdade histórica.Mas o resgate está aí. É um movimento sem volta e quem não nele se inserir, e esse é um direito de todos, com certeza não deixará herdeiros porque as novas gerações estão ávidas por conhecer verdadeiramente o Candomblé de Congo-Angola em sua essência bantu e não um candomblé que se diz angola mas acaba sendo um simulacro do candomblé de Ketu
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Um comentário:
Olá, professor. Sempre quis cursar sua disciplina, mas não consegui. Gostei muito dos textos do blog. Continuarei acompanhando.
Um abraço.
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