segunda-feira, 19 de abril de 2010

OS BANTU

OS BANTUS
O termo bantu define um grupo linguístico composto de mais cinquenta milhões de pessoas dividido em diferentes etnias. Cada etnia possui elementos culturais e linguísticos comuns a todos, mas também especificidades mais ou menos características que as distingue das demais. Os bantus estão espalhados por um terço do continente africano, desde o Sudão até a cidade do Cabo na África do Sul, do oceano atlântico ao oceano índico, e totalizam um total de 450 línguas aparentadas segundo J. Greenberg.
Essas línguas antes chamadas, línguas cafres, e em seguida foram nomeadas por Willem Bleek (1827-1875) de línguas ba ntu (em duas palavras)
ntu : cabeça ; ba ntu : as cabeças e as pessoas.
Mu ntu – uma cabeça
Mu ntu – designa uma pessoa, uma cabeçaDevido as mudanças climáticas e as atitudes ancestrais, os bantus sairam de seu lugar de origem entre o atual Camarões e a Nigéria, em direção ao sul.
Datas : Acontecimentos comuns ao mundo Bantu8000 – período de extensão do Sahara5000 Os grupos humanos falantes das línguas bantu iniciam as migrações4000 a 2000 – Expansão, ocupação da floresta2800 – Os povos caçadores-coletores vivem ainda no sul do Sudão
1600 a 500 – Ocupação da bacia do Rio Zaire, (bacia do Congo e do Equador)100 – Os povos bantu campeiam por toda a África Central e do SulA agricultura confere aos Bantu uma superioridade numérica sobre os povos caçadores-coletores.500 antes de Cristo a 750 depois de Cristo – Fim das migrações bantu em África austral.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Os zindunga

Extraído de MARTINS, Joaquim. cabindas – história – crenças – usos e costumes. Disponível em http://www.cabinda.net.

(pl. ZINDUNGA OU BADUNGA)
Os ZINDUNGA são grupos de mascarados que ainda hoje se encontram em terras de Cabinda: no Kizu, Ngoio, Kinzazi e Susu. Se actualmente está a perder parte do seu carácter secreto, do género de seita secreta - a instituição dos ZINDUNGA era tida de carácter secreto e a única que se conhece ter existido em Cabinda. O P. Bittremieux quer compará-la à sociedade secreta dos BAKHIMBA, do Maiombe ex-belga. Ainda hoje, se está bastante divulgada e se não se reveste dos cuidados e segredos de outrora, muita coisa se desconhece a seu respeito e é rodeada ainda esta instituição das máximas cautelas e sigilo. Inicialmente era formada a seita por nove mascarados. Mais uma vez se nota aqui o número sagrado destes clãs. Posteriormente juntou-se-lhe mais um décimo mascarado. Mas ninguém nos soube dar uma explicação que satisfaça plenamente. Chegam a dizer que foi no tempo do Sr. Dr. Corte Real que passaram a ter dez mascarados. O Sr. Dr. Corte Real teria gostado que fossem em número par... Daremos, mais para o fim, os nomes de cada mascarado e, tanto quanto possível, a sua explicação. Em terras de Cabinda, todos, tanto pretos como brancos, conhecem hoje os Zindunga. Aparecem com frequência nas grandes solenidades e, como folclore, raro faltam nas festas do aniversário do tratado do Simulambuku e tendo as suas exibições na aldeia de Nova Estreia. Nas solenidades do MPOLO ou NZIMBU (que descreveremos) relacionadas com os funerais dos nobres e ricos senhores, solenidades que hoje se realizam um ano após a morte, os Zindunga estão sempre presentes. Mas a presença dos Zindunga obriga a grandes despesas. Outrora, os cadáveres eram enterrados semanas, meses e até anos depois da morte, para dar tempo a que se juntassem as coisas necessárias para um enterro de grande senhor. Com a obrigação do enterramento logo após as 24 horas sobre a morte, todo ocerimonial do MPOLO fica para o primeiro aniversário da morte do nobre ou ricosenhor. Os homens que fazem parte desta Instituição dos Zindunga apresentam-se escondidos debaixo de grandes máscaras, pintadas e sarapintadas de várias cores, e com uma espécie de coroça, que os cobre até aos pés, feita de folhas de bananeira. Em urna das mãos, quase sempre a direita e que se não vê, seguram uma espécie de vassoura feita com a nervura da folha de palmeira. É para afastar e fustigar os mais atrevidos. Costumam trazer um ramo de Lisisa-sisa (- Afromomum Laurentii), que é preso entre as espáduas e aparece por cima da cabeça. A Lisisa-sisa é tida por planta sagrada. Quem são os mascarados? Os seus nomes de aldeia e o da aldeia ou família a que pertencem? A própria família sabe que este ou aquele seu membro faz parte dos Zindunga? A falta de resposta-ou de poder responder - a estas perguntas, além das leis e regras que regem a instituição, é que lhe dão aspecto de seita secreta. Uma coisa é certa: nunca se houve pronunciar o nome seja de quem for. Nunca se ouve dizer: debaixo daquela máscara está fulano; sicrano e beltrano, etc., etc.... são Zindunga. Nada. Nadinha. Se os conhecem - e cremos que não - não o dizem. Nem sequer mostram curiosidade em o saber. Aquenta-os e corta-lhes a curiosidade o receio, até um quase terror, de que alguma coisa de mal lhes aconteça ou que os Zindunga os castiguem. Quando são convidados, e são-no, sobretudo, para os grandes funerais - cerimónias do MPOLO - o chefe dos Zindunga avisa os outros membros. Fazem entre eles, Zindunga, uma colecta que dê, pelo menos, para a compra de uma garrafa de aguardente e para que fique algum em numerário. O que se consegue é enviado por um mensageiro ao chefe de família da pessoa falecida e tanto serve para ajuda das despesas como para sinal de que aparecerão na solenidade. É para o chamado Lifundu (pl. Mafundu), como que uma espécie de dote. O chefe de família do defunto arquiva a dádiva reconhecido. Com antecedência suficiente os Zindunga preparam tudo o que lhes é necessário. A máscara há muito que está pronta. Mas a vestidura de folhas de palmeira é feita de novo.Bem a tempo, tudo fica em ordem. Não esquecerão aquela espécie de vassoura, aNsense. Para não serem reconhecidos, as deslocações fazem-se sempre de noite e com as maiores cautelas e silêncio. É pela meia noite que se deslocam. Em local escolhido e já préviamente preparado se escondem e vivem sempre que deixam o lugar das cerimônias e danças. Este recinto é cercado com folhas de palmeira, suficientemente altas e espessas, de modo a não permitirem olhares indiscretos. Aliás, entre os negros, o medo é grande. Instintivamente fogem do local onde estão escondidos os Zindunga e não se lhes atiça a curiosidade. Até para satisfazerem as suas necessidades, os Zindunga têm lugares escolhidos e suficientemente resguardados. Dentro dos cercados que lhes prepararam é onde descansam, dormem e comem à farta. Quem algum dia assistiu às danças dos Zindunga, contínuas e movimentadas, sob o peso e incómodo das máscaras e da vestidura de folhas de bananeira, admira-se de como é possível resistir-se tanto. Devem sair suados como toiros!... E, forçosamente, têm de comer muito bem e de não beber pior. Também nada se lhes nega, nada se lhes recusa. Para os outros pode haver falha de comida e de bebida. Mas com nada faltarão aos Zindunga até por que temem alguma maldição deixada por eles à partida. Não são os Zindunga as Bakama (esposas) do Nkisi-Nsi, os zeladores das leis de Lusunzi? Por isso têm de ser muito bem tratados. Terminada a festa, os ZINDUNGA voltam ao local «sagrado» da floresta. Regressam de noite. Antes, porém, o chefe de família onde se fez a festa pagar-lhes-á muito bem a actuação. Dar-lhes-á muito mais de 20º% do que deles havia recebido. Pagamento em dinheiro, aguardente vinho. O local onde os Zindunga têm as actuações, do género que acabamos de descrever,chama-se Zindunga zisambi - Lugar onde os Zindunga choraram o defunto. Mas os Zindunga não comparecem somente em funerais ou festas relacionadas com eles. Assistem também às festas do Nfumu-Nsi (chefe da terra, do clã) a fim de o abençoarem, depois da eleição e consagração pelo Nkisi-Nsi e reconhecimento por todo o povo. É que o Nkisi-Nsi é o espírito protector da terra, é o maior de todos, é o que toma perante os homens o lugar de Deus, urna vez que Este, sendo tamanho, imenso, e estando tão longe, não pode incomodar-se com os pobres mortais!... Os Zindunga são também os defensores da ordem e das leis. Estão estritamente ligados ao Nkisi-Nsi, ao Ntoma-Nsi e ao Nfumu-Nsi. Por isso,comparecem logo que o ou Ntoma-Nsi adoecem. Neste caso, a primeira reunião, dança e cerimonial, realiza-se no próprio local onde se encontra o Nkisi-Nsi, ordinariamente, como já sabemos, no maio da floresta ou em lugar ermo. Ninguém pode assistir a essa primeira “prece” junto do Nkisi-Nsi Chamasse a isto o Kubila Kinkisi-Nsi - Saudar o Nkisi-Nsi (para que cure o doente). Tem lugar pela meia noite esta dança-prece. A dança é intercalada de comes e bebes.Continua secreta a reunião e a dança. Nem as pessoas de família lá são permitidas. Conferenciam entre eles. Já saberão, mais ou menos, pelo que lhes disseram a respeito do doente ou por que algum deles o foi ver, se é muito grave ou não o seu estado; se há probabilidades de que tudo passe em nada e não passe de um susto; se pode haver a possibilidade de se juntar ao activo da instituição um “milagre”! Far-se-ão tanto mais caros quanto mais provável é o dito “milagre”! Ao cantar do primeiro galo, depois de conferenciarem, vão descansar. De manhãzinha, o Chefe dos Zindunga vai falar com o doente - o Ntoma-Nsi ou Nfumu-Nsi - e levá-lo a convencer a família de que é necessário apaziguar o Nkisi-Nsi ou atrair-lhe a sua bênção. Ora, o apaziguamento do Nkisi-Nsi ou o atrair as suas bênçãos sobre alguém – conforme os casos - só se consegue através da actuação dos Zindunga que, como o doente bem deve saber, são as «esposas» do Nkisi-Nsi. Por outro lado, os Zindunga só podem dançar, actuar, comendo e bebendo bem e sendo bem pagos! E daqui se não sai. Antes do mais, antes das danças e actuação dos Zindunga, impõe-se urna reunião pública a que assistem já todos os Zindunga, devidamente mascarados. O doente é colocado sobre uma esteira - nkuala. Cada um dos Zindunga, um por um, enquanto os outros redopiam e dançam, vai junto do doente e, num arremedo de dança individual circula à sua volta. É uma forma de o abençoar - Kuvana miela. O doente, tanto quanto lhe é possível, e já escolhem quase sempre ocasião em que o pode fazer, ergue o tronco e levanta as mãos ao céu em sinal de agradecimento. Os Zindunga, seguros do êxito, continuam por mais dois ou três dias nessa «boa vida», a comer, beber e a ser muito considerados. Depois de também muito bem pagos, voltam à vida normal. A esta cerimónia se costumava chamar Vakuisa Nfumu-Nsi ou Ntoma-Nsi - Fazer pagar o tributo ao Nfumu-Nsi ou Ntoma-Nsi. Se contra toda a esperança e depois de todo o cerimonial dos Zindunga o Nfumu-Nsi ou Ntoma-Nsi vier a falecer, não há problema. Morreu? Foram os bandoki, as almas do outro mundo, que o levaram! Salvou-se? É «milagre» deles, do Zindunga, está mais do que visto! Os Zindunga com o Ntoma-Nsi aparecem sempre na dança MBUMBA-MBITIKA, a dança a que são obrigados os fornicadores, quando a falta é cometida com rapariga que ainda não passou pela «casa da tinta» (pela Nzo-Kumbi). São obrigados, os infractores - ele e ela - a dançar nús, ou apenas com umas fracas folhas a cobrirem o sexo, e que acabam por cair durante a dança, diante de todo o povo da aldeia. Também não falta gente vinda de fora. O caso torna-se público e assim é necessário para melhor apaziguar o Nkisi-Nsi Ao ritmo da música da dança Mbitika - Mbitika-Mbítika ié, Mbítika-Mbumba Mbítika ié são batidos e fustigados pelos presentes, incluindo os Zindunga.Imagine-se o tormento. Não são, ainda hoje, comuns estas faltas. É que o terror que inspira esta dança acalma os mais e as mais fogosas.São faltas contra o Nkisi-Nsi. É preciso guardar pura a raça. E para a. continuação da raça a mulher só se pode dar depois das cerimónias da Nzo-Kumbi. E, para velar pelo cumprimento dessa lei - de Lusunzi e do Nkisi-Nsi - lá estão os Zindunga e o Ntoma-Nsi. Pode ver-se por quanto fica esta «brincadeira» aos delinquentes e respectivas famílias. Não havia caça, nem chuvas, nem pesca? Era por causa dessas faltas. Que apaguem o mal e apazigúem o Nkisi-Nsi para que voltem as coisas ao normal: que volte a chuva, se apanhe caça, se pesque, etc. O mesmo Ntoma-Nsi e Nfumu-Nsi têm a máxima consideração pelos Zindunga. Estes, até certo ponto, porque são as esposas - bakama - do Nkisi-Nsi, são superiores a eles. Portanto, cautela com o repartir das coisas: dinheiro, aguardente e mais bebidas...Se os Zindunga não se julgarem suficientemente bem pagos e remunerados, pode bem ser que acarretem males e desgraças sobre o Nfumu-Nsi e Ntoma-Nsi. Segundo a Tradição do povo de Cabinda - Bauoio - a instituição dos Zindunga foi inspirada por Lusunzi. Por isso, como veremos, posto que o primeiro mascarado tenha o nome deMABOBOLO, o verdadeiro chefe dos Zindunga é chamado Nganga-Lusunzi (sacerdote de Lusunzi), Ao Nganga-Lusunzi compete o velar e zelar, com os mais Zindunga, por todos os actos espirituais, pela moralidade do povo e bons costumes antigos. Os Zindunga eram invioláveis em todos os seus actos. A sua autoridade, absoluta. A sentença que deles proviesse, dada pela voz de um deles, voz fingida para não ser reconhecida, era irrevogável, mesmo que fosse sentença de morte. E era prontamente aplicada. A comparência dos Zindunga, além das ocasiões mencionadas atrás, podia serprovocada pelos motivos seguintes: 1. - Actos ofensivos à povoação do Kizu (sede dos Zindunga de Cabinda, a ROMA DOS BAUOIO como lhe chamou o falecido A. J. Fernandes) ou às outras povoações dotadas de Zindunga. Essas ofensas, na crença deles, podiam provocar a falta de chuvas, da pesca, da caça,etc. 2. - Falta às leis de Lusunzi, à moralidade pública, no que diz respeito a actos sexuais cometidos com raparigas antes de passarem pela «casa da tinta»; faltas a certas leis conjugais (v. g. relações sobre o solo, relações com pessoas do mesmo Mbingo, etc.,etc.) 3. - Se do Kizu (Kinzazi, Ngoio, Susu, terras que possuem os Zindunga) os Zindunga podem rogar pragas e trazer malefícios, seja para quem for, também podem prodigalizar bênçãos e libertar de todos os males. E lá se juntam ou são chamados para as doenças dos grandes chefes. As pessoas de poucos meios não o podem fazer. 4. - Por actos de simples representação: aniversários de festas, solenidades públicas, nomeação de algum grande chefe. 5. - Em calamidades públicas, que sempre se atribuem à falta e malícia dos homens:carência de chuvas, sol tórrido, seca das plantações, ausência de caça e de pesca, etc.,etc. Nos casos de falta às leis de Lusunzi, injúrias ou actos ofensivos contra os Zindunga (ou povoações em que têm a sua sede), em calamidades públicas, os Zindunga podem reunir-se por sua própria iniciativa. Nestes casos iam à povoação em que se deu o caso e precediam a sua actuação por actos de verdadeiro saque antes de serem recebidos pelo Nfumu-Nsi. Os ritos e espécie de rezas que fazem nos seus «santuários», e muitas vezes em florestas e com o Ntoma-Nsi, são de absoluto segredo. A isso se chama Lombe. Os actos públicos realizados nas povoações, resumindo-se em cantos e danças,chamam-se Kukina Mpuela - dançar a Mpuela. Quando apareciam em público, nas festas de representação, ao deixarem a terra benziam-na, bem como as pessoas e coisas, sobretudo instrumentos de trabalho, quer dos homens quer das mulheres. Havendo culpados, deviam comparecer, depois, no Kizu - ou povoação da respectiva instituição de Zindunga - e pagar a multa que lhes fosse imposta. Aliás, os Zindunga desceriam ao «povoado» e ficar-lhes-ia muitíssimo mais caro! O representante dos Zindunga recebia as multas. Em certos actos públicos os Zindunga costumavam evocar Lusunzi, Mboze, Nkanga, Lemba, Kalunga, etc., etc.
Os Zindunga estarão metidos no classificação de seita «aniotica», palavra derivada, dizem, da língua de Stanleyville e que quer dizer «homens-leopardos»? Destinavam-se - e ainda se destinam - a castigar os desvios dos usas e costumes tradicionais dos clãs. Empregavam disfarces, que permitiam a simulação de ataques de feras. Não temos receio de responder afirmativamente à pergunta que se faz, pelas razões seguintes: a) - Os Zindunga destinam-se, primariamente, a zelar pelas leis morais e sociais e a castigar os desvios dos seus usos e costumes. b) - Se as suas danças não são verdadeira m ente danças guerreiras, não é raro apresentarem-se juntamente com um grupo que executa essas danças, tendo a figura de um leopardo, feito em madeira, no meio do recinto. Para comprovação disto, pudemos fotografar uma dessas danças guerreiras. (Cf. em «Mpolo»),
OS QUATRO DIFERENTES GRUPOS DE ZINDUNGA QUE NOS FOI DADOCONHECER OS ZINDUNGA DO KIZU
O Kizu é a aldeia que se encontra no alto do morro do mesmo nome, fronteiro aCabinda e a nascente. Ao Kizu lhe chamava Roma dos Cabindas A. J. Fernandes.Ngimbi Nkonko, de uns 68 anos de idade, é o chefe e guarda dos Zindunga (o Nganga-Zindunga). Sabemos já que não são conhecidos da população os mascarados. São chamados, convocados para cada função. Passa de pais a filhos a honra de fazer parte dos Zindunga. No fim de cada actuação, a não ser que haja outra imediatamente a seguir é queimada a espécie de coroça, feita de folhas de bananeira com que se vestem. São cuidadosamente guardadas as máscaras e os panos que as ornam. Há para isso um lugar escolhido e escondido na floresta, lugar a que ninguém se atreve a ir, com pena de ficar cego, dizem, se se der com as máscaras fora de funções públicas. Despendemos muitas centenas de escudos para fotografar os Zindunga em função por nós provocada, e mesmo em outras funções de carácter público. Por dinheiro nenhum pudemos conseguir que nos fosse permitido ver o «santuário» onde eram guardadas as máscaras. A negativa de Ngimbi Nkonko foi acompanhada do «descurpa, ser os nosso costume» E nada feito. Ngimbi Nkonko diz que todos os dias vai ver e limpar as máscaras para as defender do salalé ou de qualquer outro insecto que as possa detiorar. Estão sempre ao abrigo da chuva. Certo é que as tem em óptimo estado de conservação. Esse cuidado é tanto mais necessário, quanto é certo que a madeira de que são feitas (Sanga-Sanga ou Sa-Sanga, Ricinodendrum africanum Mueel. Arg.) é fraca e levíssima depois de seca, e se trabalha e corta, como cabaça, quando verde. Na explicação das máscaras, acompanhou o Ngimbi Nkonko o André Tati Sebastião, de mais ou menos 66 anos. É o Nkotokuanda, advogado, da região e um como que Nganga-Nkisi do Chefe (Regedor) da aldeia da Nova Estreia. Concilia muito bem o cargo de Nkotokuanda com o de Nganga-Nkisi e de Conselheiro do chefe.
Os Zindunga do Kizu têm os nomes e explicações seguintes: 1. - MABOBOLO ou Nunu Kinguáli (Nunu Kinguáli - Chefe das perdizes). É o chefe de todos os Zindunga ou Bakama. Tem, no cimo da máscara, o carapuço Nzita, bem como uma bengala, a indicar a sua superioridade e qualidade de chefe.Leva na boca uma espécie de cachimbo a que chamam Mbonzo. Mas Mbonzo é um nkisi. Mbonzo: Kanga liambu ku nsia ntima. Mbonzo: Amarra (guarda) a questão dentro do coração, - Sê franco e não te feches em ti mesmo como o Mbonzo que guarda as coisas em seu recipiente. Este Mbonzo, dos Zindunga tem folhas (tidas por medicinais) de Lembe-Mpumbu, Malembozo e Ntélika-Ngolo. Esta máscara de Mabobolo tem um ar carregado e ameaçador. É quem manda nos outros, mas sem lhe faltar uma certa ronha de velho (Libobolo, pl. Mabobolo = Manhoso, preguiçoso). Mabóbolo, ngongie, nkuluntu ndunga. O Mabóbolo, anuncia o «ngongie» (instrumento para avisar o povo de que o chefe vai dar ordens), é o chefe dos Zindunga. 2. - MAMPANA Mampana ntuluku ngó, Bavuluka mu iluli vi lala zisusu, Kuiza bonga susu bakala buingi mungonde utula va mbulu. O Mampana é danado como o leopardo, Tratou de entrar na capoeira Para apanhar um galo e tirar-lhe uma pena da cauda para colocar na testa. Por isso se apresenta com uma pena no alto, na fronte da máscara. Outros dizem: Mampana, ngazi mbi, mângina mu vi sásulu. O Mampana, como é o mau coconote, não quer ir para a lixeira. - O que se tem a dizer, diz-se de caras, na presença das pessoas. Mampana está pelo dono do coconote, pelo senhor das coisas. 3. - KILAMBA Teria sido a máscara adicionada posteriormente Kilamba kikambua lisina: Nzambi ki si vanga ko. Planta Kilamba (ou outra) a que faltam as raízes: Deus não a fez. Deus, o que faz, fá-lo bem feito e sem que nada falte. 4. - KUMBUKUTU ou MATONA MAMBUAMBU Kumbukutu indica superioridade. Por isso o mascarado KUMBUKUTU se apresenta com a representação de uma pequena espingarda e de uma espécie de lança. É homem forte, cabo de, polícia que vai à frente em tempo de guerra. Mas, nem por isso, deixa de fumar a sua cachimbada! Pode notar-se que nas actuações dos Zindunga o KUMBUKUTU é quem mais se movimenta e finge agredir os presentes. Mas também é homem que se mete a tudo, mesmo a cozinhar, Por isso tem também a representação de um pequeno molho de lenha. Kumbukutu, livanga nsi: Kamana saka mavembo nsi fuili. Kumbukutu, trata da terra: Que se desprezares a terra ela acaba. Ou MATONA MAMBUAMBU (por ter cara bexigosa) Matona mambuambu: Podi bótula ko. As marcas de varíola: Não se podem tirar. Fica-se marcado para sempre. Há coisas que marcam a nossa vida para todo o sempre. 5. - VANGA NSI Vanga nsi: Na nhema ndaka. O que fez a terra: Entorta a boca (a quem não está de acordo com ele e não faz o que recomenda). Note-secomo a máscara tem a boca torta... Tudo o que diz sim ou não - é para se cumprir. Ou: Vanga nsi, nhema nsi: Kanhema bantu ko. Faz a terra, despreza (se queres) a terra: Mas não desprezes a gente. Sem ela nada és. Tem a representação de uma gancheta. Vana ka va baki koko: Tula lukondo: Onde a mão não chega: Emprega a gancheta. Usar meios proporcionados à empresa a que a gente se abalança. Leva ainda a representação de uma pequena canoa-buatu. Mamana kunsábula: Nandi kuiza kusakanena. Acabou de ser passado (no barco, e por favor): E começou a fazer pouco (de quem o passara). Há quem pague o bem com o mal. 6. - MBENGE MESO Olhos vermelhos. Na verdade, de vermelho-tijolo estão pintados. Mbenge meso lula kikazu: Bika nandi ka kólua malavu. Olhos vermelhos como que queimados pela noz de cola (a ficarem com a cor da noz de cola): Deixa-o que está bêbado. Bebeu vinho atiçado pela cola. Deixa-o! Traz a representação de uma parede-cumeeira (sem perdoar o cachimbo). A cumeeira está voltada em sentido contrário. Mbaka kuntelama: Babonso mamana ufuá v’ikanda uonso ko muntu ueki sakanena. Quando a parede está virada: É por que todos morreram na família e, assim, todos abusam. Ou: Dangamuna kendala: Ntelama podi ko. A parede cumeeira: Não pode virar-se ao contrário. Não se tira o direito a quem o tem, a razão a quem está de posse dela. 7. - DUENGIE MESO Olhos cerrados. Na máscara, o que corresponde às pálpebras, está pintado a negro. Dá, dessa forma, uma aparência de olhos fechados. Duengie meso, nkuluntu, umona. O Duengie Meso é chefe que vê. Está atento a tudo o que se passa sem nada deixar escapar, ainda que pareça estar de olhos fechados. Ou Duengie meso, olhos limpinhos, claros, que tudo vêem. Na boca, estão representados dois dentes. Minu seva luseva benu: Omo livanga mona. Estou a rir-me de vós: Tudo o que fazem eu vejo. As aparências nada indicam. Por isso, não se fiar nelas. 8. - MAKAIA MAKONDE-KONDE Makaia Makonde-Konde são as folhas secas de bananeira. Para nada servem. Delas nada se faz. Makaia Makonde-Konde ibutu mene: Kamana teka muinha mabangalangana. Folhas Makonde-Konde, só quando apanhadas de manhã: Que logo que apanham o sol ficam mirradas. Ou: Mabalangana Makaia Makonde-Konde: Va ke nkazi ko, ni muana ko. Minu dásuka. Estou como as folhas Makonde-Konde (mirrado de raiva!) Não atendo nem à mulher nem aos filhos. Estou zangado. Na sua actuação este Ndunga parece o diabo. Zanga-se por tudo e por nada. Repare-se que até é representado com um olho de cada cor! 9. - BENVO LUMUANA Benvo: = Dócil, respeitador, obediente: Benvo Lumuana: = Como uma criança obediente e respeitadora. Na, Benvo Lumuana: Nandi libakamba nlongie babika ndásuka. Ele é como um bom filho: Que aconselha a que se não zangue com ninguém. Tem um Kiela-Kiambavu (espinha do peixe-serra). Kiela-kiambavu: Mana kuenda kuntuala, minu kukiela to. Sou peixe-serra: Indo para a frente, corto mesmo. Ser obediente e dócil às leis, cortando e castigando onde for necessário. Até a escolha das cores para esta máscara lhe dá uma apresentação de suavidade o leveza. 10. - TENDEKELE Tendekele libá = São as palmeiras pequenas Tendekele mpáti = As moscas pequenas mpáti (mosca pedreira). Mas, lá por serem pequenas, não perdem o direito a ser bem tratadas. Tendekele mpáti bilengie: Va bele bantu, va vingina bantu. Não se despreza a mpati por ser pequena: Onde houve gente, outra gente lhe toma o lugar. Ninguém faz falta neste mundo. Vão uns e vêm outros, Não se despreze o que é pequeno, sobretudo as crianças. Elas virão a tomar o lugar dos que hoje são grandes. Respeitar os outros, por pequenos e fracos que sejam. Apresenta-se o mascarado TENDEKELE ordinariamente com uma pequena cabacita e a representação de um arco de subir às palmeiras para recolher o malavo (vinho de palma)ou cortar o dendém. Mizumbu ibulu katina ibá lamalavu: Lionso ko ibá nuá mangiembo. O animal Zumbu fugiu da palmeira do malavo (porque não era dele, certamente): Pois todo o que tem r palmeira bebe vinho de palma. Ninguém foge do que é seu. Traz consigo também um Kiela-Kiambavu. Estudando bem a “instituição dos Zindunga” podem resumir-se os seus fins no que seque: A) - Tomar parte nas grandes solenidades do clã e abrilhantá-las. B) - Atrair a «benção» do Nkisi-Nsi na festa da eleição - Kubiala - dos grandes chefesdo clã. C) - Afastar os Babimbindi e Bandoki - «comedores de almas» - nos funerais dos grandes da terra e, nos tempos presentes, nas festas do Mpolo. As danças guerreiras, sempre com movimentos agressivos contra um inimigo hipotético e ausente, não têm outro sentido e explicação. D) - Manter vivos os usos e costumes e castigar os que a eles faltarem. Quanto aos usos e costumes, leis morais e sociais - que querem sempre presentes no espírito de todos - sente-se essa preocupação na própria forma como os Zindunga se apresentam e vestem, rodeando-se de representações simbólicas, que acabamos de descrever, para que ninguém as esqueça. OS ZINDUNGA do NGOIO, KINZÁZI e SUSU
A - Os do NGOIO, antiga sede do Reino do Ngoio.
1. - MPUNGU BIAMA Mpungu Biama: Ulenda biama kumbusa. Mpungo Biama: Despreza o que vem atrás (o que fala nas costas, o que não é franco, leal). 2. - NGANGA BALONDA Nganga Balonda: Nandi likeba bantu bonso bikangila iandi. O Nganga Balonda: Tem cuidado de todas as pessoas que andam com ele. É o Nkotokuanda, o advogado que toma conta dos assuntos que lhe são confiados. 3. - TENDEKELE Tendekele: Lisanvi toka podi mona, Kaza lisina podi mona ko. Tendekele (Palmeira mesmo pequena): Só se lhe podem ver os ramos, Mas não as raízes. Ninguém sabe o que vai no coração das pessoas. 4. - MPENGIE IVIOKA Mpengie ivioka: Mpengie ivioka, deixa-me passar. Todos têm direitos (mesmo os doentes e aleijados) Por isso, a máscara têm a boca ao lado. 5. - MANTANDU Mantandu: lsitu ai tubakili ki kimueka. Mantandu (está por Muna Ntandu = na planície): Esta terra pertence a nós os dois. 6. - MAKAIA MAKONDE-KONDE Makaia Makonde-Konde: Mabangalangana be ko podí ko simbangana ko. Folhas secas de bananeira: Porque estão secas, mirradas, já não podem segurar-se, dar nada. Quem andou não tem para andar. 7. - MBEIA Nandi Mbeia babaia ka banti andi: Babaia ka Kakongo i Ngoio, Ele é homem desprezado por todos: Desprezado pelos de Kakongo e pelos de Ngoio. (Que se pode fazer de uma pessoa assim?) 8. - KILAMBA (Cf. nas do Kizu) 9. - MASUMBA Ono usumba ntoto nani? Befu bonso Nzambi imueka ituvanga. Quem comprou esta terra? Todos nós fomos feitos pelo mesmo Deus. O mundo é de todos e todos têm direito à vida. 10. - KUMBUKUTU Kumbukutu: Uiakana mabete manvula. Kumbukutu: A casa quando não tem tecto molha-se. Ou Kumbukutu: Lukunza kuakuaka bete lunvula. Kumbukutu: Quando faltam as lukunza (folhas da palmeira-bambu que formam a casa, o telhado dacasa) chove dentro. O povo com bom chefe é como telhado bem coberto: está sempre defendido.
B - Os ZINDUNGA do KINZÁZI
KINZÁZI é uma aldeia, ainda dentro das terras do Reino de N’Goyo, que fica quase naincidência das fronteiras Leste e Sul da actual República do Zaire. KI-NZAZI - A (terra) do Raio. 1. - KIZI (Tchizi) Nguli Zindunga A Mãe dos Zindunga. 2. - MABOBOLO (Cf. em Zindunga do Kizu) 3. - BEMBELE Bembele muana Menino obediente, dócil. (Corresponde ao BENVO LUMUANA dos do Kizu). 4. - IILU (Muna) IILU: Bakanga nsunga (vo nunga) ko. No nariz: Não se atam (ou amarram) cordões-feitiço (ou braceletes) - Cada coisa é para o que é. Na pintura da máscara pode notar-se uma espécie de anel, na parte superior do nariz, já junto aos olhos. 5. - VUKILI VukiIi munu Ao que faltam os dentes (com que aspecto se apresenta e como pode comer?), 6 - NKANKA (espécie de esquilo) Nkanka unoka mvula: Ilianzi inanu. O Nkanka que apanha chuva: É que tem o ninho (buraco) longe (e ele não costuma arriscar-se a tal, está sempre, perto da toca). Se se tem família, está-se guardado e defendido. 7. - TENDEKELE (Cf. nos Zindunga do Kizu e do Ngoio). 8. - IENDE IENDE (umona) lubuázi: Va mbulu nkuékeze. Vai apontar (ver) a lepra: Na testa da tua sogra. Para que apontar o que toda a gente vê, lançar aos quatro ventos, falando, o que está à vista de toda a gente? Que se ganha em lembrar coisas tristes? A máscara mostra uma mancha na testa. 9. - NSUNGU Nsungu: Mi sungameze kuami. (Como o ) Nsungu: Estou presente (estou vivo a tomar posse do que é meu). Também tenho o meu valor. O Nsungu é um caurim. Serviu, em tempos, de moeda. Aparece a representação de um Nsungu na testa da máscara. 10. - MABUAKA MABUAKA makuba ilimbu O MABUAKA é o porta-bandeira. É o que sai à frente dos outros a anunciar a vinda dos colegas. É o homem - Ndunga - que se antecipa a todos e leva tudo quanto apanha. (É o da máscara mais escura).
C - Os ZINDUNGA DO SUSU
O SUSU é uma aldeia ainda em terras de N’Goyo. Fica na estrada do Subantando ao Kimbuandi a caminho da fronteira Leste com a República do Zaire. Estão em declínio os «Zindunga» desta aldeia. Não nos foi possível fotografar todas as máscaras. Mas, pela fotografia que apresentamos, pode adivinhar-se a que ponto desceu a «instituição» dos Zindunga do Susu. Também tinham 10 máscaras. Como o KIZU, NGOIO e KINZAZI haviam acrescentado mais uma ao número primitivo, que era de nove. Os nomes dos Zindunga do SUSU eram, praticamente, os mesmos dos do Kizu. Com que pintavam as máscaras? Com cores conseguidas ao modo da região. A cor branca é conseguida com Mpezo, espécie de giz ou cal. A amarela, com uma espécie de argila, género de ocra, chamada Ngunzi.É muito comum nestas regiões. A vermelha ou cor de tijolo consegue-se, precisamente, do pó de tijolo. Para isso friccionam-se dois tijolos, um contra o outro. A cor preta obtêm-na queimando e reduzindo a cinza muitíssimo fina o luango - papiro.Dá um negro muito intenso. Conseguido o pó que se julga suficiente é dissolvido muito bem em água, devendo ficar com uma certa consistência. A maior ou menor fixação da pintura à máscara (ou ao que pintarem) é conseguida pela mistura da seiva - liká linti - da árvore NUMBU. A seiva desta árvore é misturada com a quantidade de tinta obtida e proporcionalmente, está bem de ver, a essa quantidade.Actua como fixo-cal.
Não deixa de ser bem interessante e curiosa esta dita «INSTITUIÇÃO DOSZINDUNGA». O fim principal da máscara não é esconder alguém. É antes um sinal, uma representação de uma força invisível que vela pela comunidade. Em Pentecôte sur le Monde - n.o 59 - Out. de 1966 - pode ler-se:«Esta máscara (e refere-se às máscaras em geral) é concebida para ser usada no decorrer de certas danças ou cerimónias onde se pede a salvaguarda ou prosperidade da comunidade».

terça-feira, 13 de abril de 2010

ESTRUTURA SOCIAL
Os bantandu têm uma estrutura social que não é diferente da estrutura social congo. Eles se valem dos mesmos elementos constitutivos da sociedade de se valem todos os congos. Todo o universo social é determinado pelo traço de descendência e esse traço engendra toda a sociedade congo. A ligação com a mãe é o traço determina entre esses povos. Nesta visão acredita-se que só a mãe transmite sangue à criança através de seu cordão umbilical e a criança é mais ligada a sua mãe que a seu pai, que é quem lhe transmite o sopro da vida. O indivíduo existe sempre dentro da mãe e o papel do pai é mais socializador após o seu nascimento.
Da mãe, o indivíduo recebe o poder, a herança, as energias ocultas, o pertencimento à família. O pai é, pois o tutor até a autonomia da criança, quando ela passa para a autoridade do tio materno, o irmão de sua mãe de quem ele pode herdar tudo. O pai desse indivíduo deixará herança para seus sobrinhos filhos de suas irmãs.
ESTRUTURA TRADICIONAL
O clã (luvila) é um espaço teórico de pertencimento à família. É a identidade de base em que se assentam todas as pessoas vivas, mortas e que estão para nascer, numa filiação matrilinear, de acordo com as origens mitológicas congo. Assim, neste espaço definido, todos têm direito a um mesmo tipo de vida mesmo que não habitem juntos. O clã lhes dá um espaço de pertencimento familiar e uma referência identitária, individualizada e distinta por um nome próprio. Ter um nome de clã, para aquelas pessoas que não se conhecem à priori significa pertencer à mesma família, virem do mesmo ramo, da mesma fonte, pois de acordo com os costumes congos, as ligações do clã não se rompem nunca.
O clã se reconhece através da terra (n’toto) que é o bem de toda a comunidade e que representa o fundamento e a expressão da presença da comunidade
A terra, o território é uma verdadeira matriz dentro da cultura congo, sacralizada e inalienável, ela define a origem do clã e liga-se ao clã através do trabalho e da habitação. Um clã sem terra é obrigado a viver e trabalhar sobre terras emprestadas, reduzindo-se dessa maneira à escravidão. A terra permanece um bem de todos os membros do clã, por isso são estabelecidos tabus em torno da terra ou interditos que todos os membros do clã devem observar rigorosamente.
Em caso de conflito grave que precise a separação do clã e a repartição da terra ou plantações, a separação se dá sob uma linha imaginária, tendo como baliza uma árvore, sob a qual penduram panelas para demonstrar que a separação é noturna e diurna. A separação diurna se refere a toda atividade social que se dá durante o dia, e a separação noturna refere-se a toda atividade de feitiçaria.

A linhagem (kanda) reagrupa as pessoas descendentes de um mesmo ancestral, igualmente as que estão distantes e que não podem servir de referencia na organização das relações de assistência recíproca.
O ventre (kivumu) reagrupa pessoas que tem um mesmo ancestral no seio da linhagem e participam de uma vida comum, ou de solidariedade afetiva obrigatória e recíproca.
A mãe (ngudi) é um agrupamento de pessoas em torno de um ancestral direto ou de um mais velho vivo e responsável.
Governo da Casa (Nzo) é o menor nível de agrupamento do clã. É a unidade residencial que reagrupa as pessoas que não são filhos da mesma mãe, nem pertence à mesma linhagem, nem são do mesmo clã, mas se colocam todos sob a autoridade de um homem (de um pai)