terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TRADIÇÃO BRASILEIRA VERSUS GTRADIÇÃO AFRICANA

Tradição brasileira versus tradição africana



O candomblé brasileiro chegou ao Brasil vindo de África e aqui sofreu uma série de modificações e adaptações para a sua própria sobrevivência. Além disso, por não ter escrituras como as outras religiões, amparou-se na tradição da oralidade e assim tem permanecido até os dias de hoje. A oralidade é a grande arma de sustentação do Candomblé tanto no aspecto positivo quanto no negativo.
A oralidade é uma arma de dois gumes. Ao mesmo tempo que preserva valores e tradições, degenera esses valores por ser um processo de transmissão oral e todos sabemos que na transmissão muita coisa se perde e se acrescenta. Há um dito popular muito sábio que diz: quem conta um conto aumenta um ponto. Esse é o risco da oralidade do qual o candomblé não sai ileso.
Um outro ponto a ser considerado é quanto aos conhecimentos trazidos de África pelos escravizados. As condições em que foram capturados, transportados e finalmente vendidos no Brasil pode não ter feito deles os melhores interlocutores. Mas foram eles, que correndo todos os riscos nos legaram esse patrimônio cultural e religioso que hoje chamamos Candomblé.
No entanto, o tempo passa e sua ação inexorável tudo apaga, o bom e o ruim. Os tempos heróicos e as perseguições dos senhores e da polícia passaram, apesar de termos ainda hoje resquícios dessa perseguição. Mas hoje, bem ou mal, em melhores ou piores condições o Candomblé goza de relativa liberdade de expressão. E uma nova camada de candomblecistas, filhos da periferia sim, mas com condições de ir às escolas, as faculdades, de fazerem viagens nacionais e internacionais, estão querendo saber um pouco além do que vai o cabedal oral que nos foi legado. E estão em busca, através de livros, viagens e cursos aquilo que os mais velhos não estão podendo passar, porque além do aspecto religioso, o candomblé tem também o aspecto cultural.
E aí se dá o grande embate. Muitos estão indo à África, através de viagens ou de bibliografia no afã de conhecer melhor nossa liturgia e compreender melhor nossos afazeres relativos ao sagrado. Claro que os puristas, os donos do saber, os acomodados, os pouco alfabetizados estão em polvorosa. Porque seu saber é tão escasso que temem perder o seu posto, posto esse fundado por eles mesmos, de detentores do saber iniciático. Julgam-se donos de tradições únicas, donos de raízes, detentores de um poder que não existe.